DANIEL MAZOLA -
Na manhã desta sexta (8),
após encontro com o presidente interino Michel Temer, o presidente da CNI,
Robson Braga Andrade, disse que a indústria está “ansiosa” por medidas
“duras” – como a reforma da previdência e alterações na legislação
trabalhista – e citou como exemplo a França, afirmando que lá é permitido
trabalhar até 80 horas por semana.
São
escravocratas e mentirosos, porque é evidente que a França não adotou as 80
horas semanais e as mudanças na legislação, que é de 35 horas semanais, tem que passar no Legislativo e por conta disso os franceses estão quebrando o pau por
lá há pelo menos dois meses.
Para rechaçar as
deploráveis declarações da representação do patronato, seis das principais
centrais sindicais do país emitiram nota de repúdio. No texto, as entidades
afirmam que “propor uma jornada de 80 horas semanais é uma provocação ao
povo brasileiro (...) isso significaria atraso social, cultural e econômico,
submetendo a classe trabalhadora a condições desumanas”.
Assinado pela União
Geral dos Trabalhadores (UGT), Central Única dos Trabalhadores (CUT),
Central dos Tralhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Força Sindical,
Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), Nova Central Sindical dos
Trabalhadores (NCST), o texto diz que a afirmação do empresário é
“estapafúrdia” e “faz lembrar a situação da classe operária do século 19”. Segundo
os sindicalistas a fala é lamentável e vai na contramão de todos os estudos
sobre o trabalho no país.
O presidente da UGT,
Ricardo Patah, comentou assim a proposta: “A simples menção de uma
barbaridade dessas é um retrocesso enorme, que irrita, de um lado, e
radicaliza, por outro, os trabalhadores”, afirmou. “No caminho de
propostas deste tipo, logo os empresários vão querer impor a volta do
pelourinho e da chibata, tratando os trabalhadores como escravos (...) É
uma provação muito baixa e vil, que merece ser denunciada e rechaçada com todas
as forças”, acentuou o sindicalista.
O fato é que sem a
mínima desfaçatez a CNI botou a bunda na janela, e
logo em seguida as centrais sindicais não perderam a oportunidade e
passaram-lhe a mão nos fundilhos. Talvez assim, com esse pesadelo profundo, o
Movimento Sindical volte a construir uma pauta unitária em benefício dos
trabalhadores e consequentemente do desenvolvimento econômico do Brasil.
Confira a íntegra da nota dos trabalhadores:
Propor jornada
de 80 horas semanais é uma provocação ao trabalhador brasileiro
Nós
sindicalistas repudiamos a sugestão, proferida pelo presidente da Confederação
Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, nesta sexta-feira (8),
após uma reunião com o presidente interino Michel Temer e cerca de 100
empresários do Comitê de Líderes da MEI (Mobilização Empresarial pela
Inovação), segundo a qual o Brasil deveria ampliar sua carga horária de
trabalho em até 80 horas semanais e de 12 horas diárias para classe
trabalhadora.
Neste
momento em que as centrais sindicais buscam um diálogo, a fim de estabelecer um
consenso benéfico para todos, tal afirmação, que faz lembrar a situação da
classe operária do século 19, surge como uma provocação estapafúrdia ao povo
brasileiro.
O
que os trabalhadores querem e precisam é andar para frente, não retroceder na
história. Neste sentido aproveitamos a oportunidade para reafirmar nossa
bandeira pela redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais, sem
redução de salário.
A
proposta da jornada de 80 horas semanais vai na contramão de todos os estudos
sobre o trabalho no Brasil. Pesquisas do Dieese, por exemplo, apontam que a
adoção das 40 horas semanais poderá gerar mais de 2 milhões de novos postos de
trabalho. Na mesma linha, estudos do Ipea apontam que uma jornada de 12 horas
semanais seria suficiente para produzir a mesma riqueza produzida com uma
jornada legal de 44 horas.
A
elevação do nível de emprego e dos salários irá beneficiar todo o país e
promover o crescimento da economia brasileira, fortalecendo o mercado interno,
ampliando o consumo e estimulando os negócios no comércio e na indústria.
A
adoção de uma jornada de 80 horas semanais, por outro lado, causará um atraso
social, cultural e econômico, submetendo a classe trabalhadora a condições
desumanas afetando (1) sua saúde e qualidade de vida; (2) sua possibilidade de
escolaridade e conhecimento; (3) e reduzindo seu tempo de vida social e
cultural.
Acreditamos
que a redução da jornada de trabalho sem redução de salário é indispensável
para ampliar a oferta de emprego, na medida em que os ganhos de produtividade –
fruto do desenvolvimento tecnológico e de formas mais avançadas de
gerenciamento – requerem essa mudança. Qualquer medida contrária só ampliará a
precarização e retirará direitos consagrados pela luta histórica da classe
trabalhadora.
As
centrais sindicais conclamam à classe trabalhadora e ao conjunto do povo
brasileiro para que se mantenham alertas, vigilantes e mobilizados para a luta
contra o retrocesso neoliberal neste difícil momento da vida nacional, marcada
por uma brutal ofensiva dos capitalistas contra o Direito do Trabalho, a
democracia e a soberania nacional.
Adilson
Araújo, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB)
Antônio
Neto, Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB)
José
Calixto Ramos, Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST)
Paulo
Pereira da Silva, Força Sindical
Ricardo
Patah, União Geral dos Trabalhadores (UGT)
Vagner
Freitas, Central Única dos Trabalhadores (CUT)