ROGER MCNAUGHT -
Recentemente nos deparamos com uma manobra que deixou muitos
educadores, pais, mães e estudantes de cabelos em pé: o cancelamento da matrícula de dezenas de
milhares de estudantes da rede estadual do Rio de Janeiro. Muito pouco foi
esclarecido, educadores sob assédio moral forte e medo de retaliações apenas
falavam em bastidores sem dar detalhes.
Agora, após contínuos ataques do (des)governo do estado do
Rio de Janeiro, educadores rompem o silêncio sobre o que está ocorrendo nos
bastidores da educação pública e o que nos foi relatado é chocante. Diante dos
ataques, direções eleitas após as ocupações estudantis encontram-se de mãos
atadas, muitos sem as mínimas condições de autonomia de trabalho, dignidade e
infraestrutura.
Apenas em uma das unidades, cerca de quatrocentos alunos
tiveram suas matrículas canceladas sem aviso prévio segundo educadores, o que
fere o estatuto da criança e do adolescente, causando revolta em todos da
comunidade escolar. Com o fechamento de turmas devido ao cancelamento das
matrículas desses estudantes, professores são realocados e a verdadeira
“manobra” fica visível: O cancelamento foi realizado às vésperas do censo escolar,
que classifica as escolas para o envio de verbas no ano seguinte. Com menos alunos, escolas são reduzidas de
acordo com o censo e recebem ainda menos verbas.
Como se não bastasse essa manobra para reduzir verbas, há
indícios fortes de trabalho análogo à escravidão entre funcionários
terceirizados e forte assédio moral entre concursados, o que levou educadores a
aceitarem falar desde que suas identidades fossem mantidas em sigilo. O que nos assusta é o nível de medo imposto
pela atual administração pública em servidores concursados, pois quando um
trabalhador tem medo de exercer seus direitos, significa que estão lidando com
criminosos vingativos – comportamento inaceitável para gestores públicos.
Além das denúncias locais da unidade à qual pertence o
educador entrevistado, outras se encontram na mesma situação. Além dos cancelamentos de matrícula, a falta
de infraestrutura levou professores de outra unidade a formularem uma
“carta-denúncia” denunciando a situação de risco à qual o estado vem expondo
estudantes menores de 18 anos.
Enquanto há total falta de estrutura nas unidades de ensino,
deve-se ressaltar o fato de que a sede da Secretaria Estadual de educação (SEEDUC) encontra-se fortemente blindada, com arame farpado,
portões reforçados, e forte contingente policial para evitar o acesso de
manifestantes – para isso há dinheiro.