ROGER MCNAUGHT -
Rio de Janeiro, 3 de abril.
Na orla de Copacabana, às 18 horas, iniciou-se um aglutinamento de
pessoas exigindo medidas duras contra o ex-presidente Lula. Com trios elétricos caríssimos, telões de
led ainda mais caros e muitos gritos, rapidamente uma multidão enfurecida tomou
conta da esquina da Rua Miguel Lemos e da Av. Atlântica, em Copacabana.
Assustados com os gritos e urros animalescos, motoristas
rapidamente começaram a dar meia volta, saindo da via pela contramão em uma
cena digna dos mais temidos arrastões e tiroteios típicos das vias expressas da
cidade. Camisetas do pré-candidato à
presidência Jair Bolsonaro eram vistas por toda parte, misturadas à camisas
pedindo a intervenção no Supremo Tribunal Federal.
Vaias aos ministros do STF e xingamentos à atual presidente
do STF Carmen Lúcia desceram aos perigosos níveis onde palavras como “piranha”
e “vagabunda” puderam ser ouvidas durante uma provocação de ódio, promovida
pelos oradores no trio elétrico. Ondas
de urros hostis dirigidos ao judiciário mostravam claramente que a justiça só é
aceita quando faz o que os “manifestantes” desejam.
FESTA ESTRANHA COM
GENTE ESQUISITA
Mascarados, pessoas fantasiadas e indivíduos
reconhecidamente membros de grupos de ódio neofascistas eram vistos por todo
lado. Músicas dos anos 80 eram tocadas
fora de contexto, contendo trechos que diziam “fazer justiça com as próprias
mãos” e outras mensagens nada democráticas.
Ouve claro desrespeito à guarda municipal que tentava
educadamente manter uma das vias abertas, mas manifestantes insistiram até
fechar a segunda pista, causando muitos transtornos ao fluxo do trânsito em um
horário já caótico normalmente.
Uma ode à intervenção militar era clara, mesmo a intervenção
mostrando uma piora sensível nos indicadores da violência urbana no Rio de
Janeiro e desperdiçando dinheiro público. Durante a execução do Hino Nacional,
todo o fanatismo ultra nacionalista era percebido facilmente nos rostos de
muitos dos presentes – sinal de alerta!
A obsessão para com o ex-presidente Lula era inegável. Bonecos, pinturas, toda sorte de ofensas
visuais podiam ser encontradas por toda aquela algazarra que, pasme, dizia não
ser “nem direita nem esquerda”. Tal
obsessão deveria ser acompanhada por profissionais de saúde mental com
urgência.
Por fim, mas não menos importante, se esta foi uma tentativa
de mostrar força, apenas mostrou o ridículo, pois no dia anterior o ato em
apoio ao ex-presidente Lula ocorrido no Circo Voador foi infinitamente mais
numeroso e definitivamente mais saudável do que esta festa estranha.