22.11.14

REFLEXÕES SOBRE A AMIZADE

CARLOS CHAGAS -


A amizade continua um dos grandes sentimentos nas relações humanas, mas existem momentos em que deve ser sacrificada por conta de valores mais altos. Em nome da ética, da paz e da justiça, por exemplo.

Nada contra a amizade que liga a presidente Dilma Rousseff e a presidente da Petrobras, Graça Foster.   O problema é que estão colocadas em campos opostos, depois de revelados os escândalos naquela estatal. Certamente Graça Foster nada teve a ver com a roubalheira praticada por maus diretores, péssimos empreiteiros e execráveis políticos. O estranho é a presidente da Petrobrás alegar desconhecimento do que se passava no seu quintal. Mais estranho ainda,   que   a presidente da República venha sustentando a permanência da amiga contra a lógica primária de a empresa necessitar de uma faxina olímpica.

Em outros governos, bastando lembrar de Itamar Franco, Graça estaria substituída, até para que se defendesse de supostas ilações, a começar pela incompetência. O saudoso presidente demitiu seu maior amigo, Henrique Hargreaves, chefe da Casa Civil, acusado de irregularidades. Foi defender-se, obteve sucesso pleno e retornou ao cargo, com tapete vermelho e tudo.  A presidente da Petrobrás, no entanto, é mantida com toda pompa e circunstância, criando os maiores problemas para o governo com seus frágeis argumentos de nada saber e até de encobrir lamentáveis operações, como a compra da refinaria de Pasadena.

Cada dia que passa mais a situação prejudica o Brasil, não faltando quem preveja, no bojo da catarata de delações premiadas, alguma referência de empreiteiros a iniciativas   de Graça Foster. Para livrar-se de uma cadeia prolongada, os malandros fazem de tudo, começando por mentir.

Torna-se impossível imaginar a inexistência, entre 202 milhões de brasileiros, de alguém preparado para recuperar a Petrobras. Entre civis e militares não haverá um só preparado, em condições de devolver sanidade ao antigo símbolo do orgulho nacional?

Dilma é cabeça dura, mas chegaria a tanto a distorção de que por amizade está proibida de despedir a amiga? E quanto a Graça Foster, não percebe a importância de pular fora? Ambas deveriam precipitar o desenlace, não necessariamente levando ao rompimento ou à decepção, mas, pelo contrário, mostrando ampla prova de que são realmente amigas. Nesses tempos bicudos de desvarios do governo do PT, nada mais importante do que um pouco de bom senso. Especialmente para quem tem mais quatro anos de poder, num caso. E lealdade para com a amiga, de outro.

Planalto acusa Veja de “manipulação jornalística”

Via Congresso em Foco -

A Secretaria de Imprensa da Presidência reagiu, em tom duro, contra a publicação da reportagem de capa da nova edição da revista Veja. Na nota, o Planalto acusa a semanal de fazer “manipulação jornalística”ao publicar matéria que sugere que a presidente Dilma e o ex-presidente Lula sabiam, desde 2009, das irregularidades na Petrobras reveladas pela Operação Lava Jato.

A revista publica uma mensagem eletrônica enviada pelo ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa à então ministra-chefe da Casa Civil, em que ele adverte o Planalto a adotar uma solução política para as irregularidades detectadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em três obras, ameaçadas de paralisação. Entre elas, a refinaria de Abreu e Lima em Pernambuco. “O governo seguiu sua orientação”, diz a reportagem.

“Depois de tentar interferir no resultado das eleições presidenciais, numa operação condenada pela Justiça eleitoral, Veja tenta enganar seus leitores ao insinuar que, em 2009, já se sabia dos desvios praticados pelo senhor Paulo Roberto Costa, diretor da Petrobras demitido em março de 2012 pelo governo da presidenta Dilma”, diz a nota assinada pela Secretaria de Imprensa da Presidência. “As práticas ilegais do senhor Paulo Roberto Costa só vieram a público em 2014, graças às investigações conduzidas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público”, acrescenta o texto.

A mensagem, diz a revista, foi localizada pela Polícia Federal em computador apreendido na Petrobras. Segundo a reportagem, Paulo Roberto lembrou que o Congresso conseguiu derrubar a paralisação de quatro obras proposta pelo TCU em 2007.

O Planalto alega que tomou providências assim que foi alertado, em 2009, de problemas nas obras da refinaria de Abreu e Lima e que o próprio Congresso aceitou a retomada da construção após chegar à conclusão de que os problemas identificados eram sanáveis.

“A inconsistência da reportagem de Veja é evidente. As pendências apontadas pelo TCU nas obras da refinaria Abreu e Lima já haviam sido comunicadas, em agosto, à Casa Civil pelo Congresso e foram repassadas ao órgão competente, a CGU”, diz a nota da secretaria. 

Confira, abaixo, a íntegra da nota da Presidência: 

“Nota à imprensa:
A reportagem de capa da revista Veja de hoje é mais um episódio de manipulação jornalística que marca a publicação nos últimos anos.

Depois de tentar interferir no resultado das eleições presidenciais, numa operação condenada pela Justiça eleitoral, Veja tenta enganar seus leitores ao insinuar que, em 2009, já se sabia dos desvios praticados pelo senhor Paulo Roberto Costa, diretor da Petrobras demitido em março de 2012 pelo governo da presidenta Dilma.

As práticas ilegais do senhor Paulo Roberto Costa só vieram a público em 2014, graças às investigações conduzidas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público.

Aos fatos:

Em 6 de novembro de 2014, Veja procurou a Secretaria de Imprensa da Presidência da República informando que iria publicar notícia, “baseada em provas factuais”, de que a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, recebeu mensagem eletrônica do senhor Paulo Roberto Costa, então diretor da Petrobras, sobre irregularidades detectadas em 2009 pelo Tribunal de Contas da União nas obras da refinaria Abreu e Lima. O repórter indagava que medidas e providências foram adotadas diante do acórdão do TCU. A revista não enviou cópia do e-mail.

No dia 7 de novembro, a Secretaria de Imprensa da Presidência da República encaminhou a seguinte nota para a revista:

Em 2009, a Casa Civil era responsável pela coordenação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Assim, relatórios e acórdãos do TCU relativos às obras deste programa eram sistematicamente enviados pelo próprio tribunal para conhecimento da Casa Civil.

Após receber do Congresso Nacional (em agosto de 2009), do TCU (em 29 de setembro de 2009) e da Petrobras (em 29 de setembro de 2009), as informações sobre eventuais problemas nas obras da refinaria Abreu e Lima, a Casa Civil tomou as seguintes medidas:

a. Encaminhamento da matéria à Controladoria Geral da União, em setembro de 2009, para as providências cabíveis;

b. Determinação para que o grupo de acompanhamento do PAC procedesse ao exame do relatório, em conjunto com o Ministério de Minas e Energia e a Petrobras;

c. Participação em reunião de trabalho entre representantes do TCU, Comissão Mista de Orçamento, Petrobras e MME, após a inclusão da determinação de suspensão das obras da refinaria Abreu e Lima no Orçamento de 2010, aprovado pelo Congresso.

Nesta reunião, realizada em 20 de janeiro de 2010, “houve consenso sobre a viabilidade da regularização das pendências identificadas pelo TCU” nas obras da refinaria Abreu e Lima (conforme razões de veto de 26 de janeiro de 2009). Foi decidido, também, o acompanhamento da solução destas pendências, por meio de reuniões regulares entre o MME, o TCU e a Petrobras.

A partir daí, o Presidente da República decidiu pelo veto da proposta de paralisação da obra, com base nos seguintes elementos:

1) a avaliação de que as pendências levantados pelo TCU seriam regularizáveis;

2) as informações prestadas em nota técnica do MME que evidencia os prejuízos decorrentes da paralisação; e

3) o pedido formal de veto por parte do então Governador de Pernambuco, Eduardo Campos.

Este veto foi apreciado pelo Congresso Nacional, sendo mantido.

A partir de 2011, o Congresso Nacional, reconhecendo os avanços no trabalho conjunto entre MME, Petrobras e TCU, não incluiu as obras da refinaria Abreu e Lima no conjunto daquelas que deveriam ser paralisadas.

E a partir de 2013, tendo em vista as providências tomadas pela Petrobras, o TCU modificou o seu posicionamento sobre a necessidade de paralisação das obras da refinaria Abreu e Lima”. 

A inconsistência da reportagem de Veja é evidente. As pendências apontadas pelo TCU nas obras da refinaria Abreu e Lima já haviam sido comunicadas, em agosto, à Casa Civil pelo Congresso e foram repassadas ao órgão competente, a CGU.

Como fica evidente na nota, representantes do TCU, Comissão Mista de Orçamento do Congresso, Petrobras e do Ministério de Minas e Energia discutiram a solução das pendências e, posteriormente, o Congresso Nacional concordou com o prosseguimento das obras na refinaria.

Mais uma vez, Veja desinforma seus leitores e tenta  manipular a realidade dos fatos. Mais uma vez, irá fracassar.

Secretaria de Imprensa
Presidência da República”

Barroso suspende decisão judicial que permitia viagem de José Dirceu a negócios

Por HELENA MARTINS - Via Repórter Brasil - 

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Roberto Barroso suspendeu a autorização dada pelo juiz da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal Nelson Ferreira Junior, ao pedido de viagem do ex-ministro da Casa Civil e condenado na Ação Penal 470, o processo do mensalão, José Dirceu.

Ele solicitou autorização para viajar entre os dias 21 de dezembro e 4 de janeiro para passar o período natalino na cidade de Passa Quatro, em Minas Gerais, com a família, bem como ir, entre 7 e 21 de dezembro, para a cidade de São Paulo e Vinhedo, em São Paulo, a fim de tratar de assuntos relativos à sua empresa.

Publicada neste sábado (22), a decisão do ministro do STF aponta que não houve qualquer comunicação oficial sobre a liberação ao Supremo, que tomou conhecimento dos fatos por meio da página do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT). Relator da Ação Penal 470, Barroso pede ao Juízo da Vara de Execuções Penais e Medidas Alternativas, “com a máxima urgência, informações acerca do pedido, da manifestação do Ministério Público e dos fundamentos da decisão”.

A solicitação de Dirceu havia recebido parecer contrário do Ministério Público, que considerou que viagem a passeio não condiz com o cumprimento da pena privativa de liberdade. Já o juiz Nelson Ferreira Junior acatou parcialmente o pedido, permitindo a movimentação de Dirceu, por tratar-se de viagem a trabalho. Estabeleceu, contudo, que ele deveria se apresentar à autoridade policial tanto ao chegar quanto ao sair das cidades.

Já a análise do pedido de saída no Natal foi adiada, "seja pela distância da data referida pela Defesa, seja pela necessidade de se aferir a responsabilidade e o senso de autodisciplina do Condenado, mediante a sua experimentação com a viagem a São Paulo-SP", conforme a decisão.

 Condenado como mentor do esquema de compra de parlamentares que ficou conhecido como mensalão, Dirceu começou a cumprir pena em prisão domiciliar no início deste mês. Ele obteve o direito à progressão do regime semiaberto para o aberto no dia 20 de outubro, ao completar 11 meses e 14 dias de prisão, um sexto da pena, requisito exigido pela Lei de Execução Penal. Ele foi condenado a sete anos e 11 meses por corrupção ativa no processo do mensalão.

BARBARA DE VARSÓVIA

SEBASTIÃO NERY - 

Ao lado do hotel Bristol, em Varsóvia, na Polônia, havia um bar de nome inconfundível, Krokodila, com cara e fumaça de cave existencialista de Paris, naquela cidade arrasada pela guerra. A um canto do Krocodila, toda noite, tomava conhaque da Geórgia uma estudante de arquitetura com cara de pecado, Barbara Slanka, que usava pulôver vermelho com gola rolê e calça preta. Em 1957, ia ficar uma semana em Varsóvia, fiquei varias naufragado nos olhos verdes de Barbara.

Meus minguados dólares de jornalista pobre não davam para acompanhar o conhaque de Barbara. No cambio oficial, eram 10 slotes por um dólar. No cambio negro, 200. Barbara me deu a pista: escada interna da Universidade, depois das 10 da noite. Fui lá, com o coração batendo de aventura e medo. Um homem careca, olho de gato assustado, com uma pasta grande, amarela, suja, cheia. Pegou meus dólares, acendeu uma lanterna, conferiu, amassou nos dedos, pôs no bolso. Abriu a pasta, tirou um pacote de notas grandes, pardas, úmidas, como se tivessem sido desenterradas. Me deu e sumiu. 

GUETO 

Peguei um taxi para voltar para o Krokodila.Varsóvia era uma cidade-martírio. Na madrugada branca, toda pingada de neve, naquele já quase inverno de 1957, o velho motorista, olhos azuis e cabelos fogueados ia me contando, em seu francês arrastado, coisas de sua vida. De repente, a praça imensa, quadrada, seca, vazia, absolutamente vazia, como um pedaço de deserto caído sobre a cidade e um discreto monumento negro ao centro.

-O que é isso, esta praça estranha?

-Aqui foi o gueto de Varsóvia. Aqui perdi pai, mãe, irmãos, filhos, minha família inteira. Aqui vivíamos, nós, os judeus. Em 1943, cansados do cerco de Hitler, indignados com as perseguições, violências e assassinatos diários dos nazistas, explodimos. Fizemos um levante armado, um desesperado suicídio. Fomos arrasados pela superioridade militar dos nazistas. Sobramos poucos, pouquíssimos. Fui um deles.

O velho motorista parou o carro pequeno de quatro lugares, saltou, chegou junto ao monumento e passou as gordas e avermelhadas mãos sobre a pedra negra, como se alisasse o rosto dos pais, irmãos e filhos. 

HOLOCAUSTO 

Tremi de frio e angústia na madrugada branca de Varsóvia vendo aquele homem encardido de desesperanças acarinhando a saudade de tudo que ele foi e a vida dilacerou nas garras da violência, do radicalismo, do racismo. Conversei horas com Barbara sobre o Holocausto polonês. Ela contou as lagrimas de sangue da família, deu livros, revistas, documentos.

Cheguei ao hotel, comecei a escrever uma série de indignadas reportagens sobre os crimes de Hitler contra os judeus: Treblinka, às margens do rio Buz, onde foram cremados os heróis do gueto de Varsóvia; Auschwitz, museu da loucura dos homens, onde 3 milhões de judeus franceses, holandeses, russos, foram massacrados e queimados.

Os campos todos de ignomínia da barbárie racista alemã visitei e descrevi com a repulsa da minha juventude agredida.E guardei para sempre a convicção de que, na dura briga do homem pela existência, uma coisa não se justifica: a agressão pelo preconceito, a violência em nome do bem. 

GUERRA 

Uma noite, na véspera de vir embora, no quarto miúdo onde Barbara morava, já de madrugada, eu lhe pedi que bebesse menos. Barbara, apesar de tão jovem, sorriu um sorriso de guerreiro que já perdeu a batalha:

-Meu avô morreu numa guerra da Alemanha com a Rússia. Meu pai morreu numa guerra da Alemanha com a Rússia. Eu sei que vou morrer numa guerra da Alemanha com a Rússia. O conhaque ajuda a esquecer isso. E vai ajudar a esquecer você. Estação do trem para Praga, os olhos cheios de lagrimas, com seu pulôver vermelho, sua gola rolê, sua calça preta e os translúcidos olhos verdes. Soviética, voltei a Varsóvia para dizer a Barbara que ela não morreu numa guerra da Alemanha com a Rússia. Não a encontrei mais.

No dia seguinte, Barbara ficou dando adeus lá na depois da queda do muro de Berlim e da União. 

ISRAEL 

Quando vejo Israel massacrando a Palestina com um furor nazista, eu me lembro de Barbara e do velho motorista de Varsóvia. Desde 1948 Israel, Estados Unidos e a Europa não deixam criar-se o Estado Palestino e os expulsam de sua Pátria para viverem aos milhões em acampamentos. Desesperados, os palestinos lançam foguetes contra Israel. E morrem à toa.

* Em 28/07/2014.

PLANALTO DÁ PISTAS, MAS ADIA ANÚNCIO DE MINISTÉRIO

Por FÁBIO GÓIS - Via Congresso em Foco - 

Nova composição da equipe econômica deve ser anunciada na segunda-feira. Ex-secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy é apontado como novo ministro da Fazenda; Alexandre Tombini deve permanecer no Banco Central.


A presidenta Dilma Rousseff resolveu adiar para segunda-feira (24) o anúncio de boa parte de sua reforma ministerial, embora alguns nomes já sejam dados como certos – como o do senador Armando Monteiro (PTB-PE), definido para o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, no lugar de Mauro Borges Lemos. As expectativas se voltam para a definição do chamado tripé econômico – as pastas da Fazenda, do Planejamento e o Banco Central. No mercado financeiro, as especulações sobre a nova composição da equipe econômica fizeram o Ibovespa subir a 5,07%, a maior alta em três anos, e as ações da Petrobras ultrapassarem a casa dos 11%.

Embora Dilma não anuncie oficialmente alguns nomes, interlocutores do Planalto dão como certa a ida de Joaquim Levy para a pasta da Fazenda, um dos mais importantes ministérios do governo. Com a recusa de Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, para chefiar a Fazenda – um nome que agradaria o mercado –, o ex-secretário do Tesouro Nacional (2003-2006), engenheiro naval com doutorado em Economia, passa de não cogitado, até a semana passada, para a condição de provável substituto de Guido Mantega.

Levy trabalhou durante cerca de sete anos no Fundo Monetário Internacional (FMI), entre 1992 e 1999, e atuou tanto no governo Fernando Henrique Cardoso – como secretário-adjunto de Política Econômica da Fazenda – quanto na gestão Lula, como economista-chefe do Planejamento e, em seguida, secretário do Tesouro. Atualmente, Levy é diretor-superintendente do Bradesco Asset Management, braço de gestão de recursos do banco.

Já para o comando do Planejamento, o nome apontado pelos interlocutores da presidenta é o ex-número dois do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa. Ex-secretário Executivo na gestão Mantega, Barbosa é também um nome que agrada ao mercado e, atualmente, atua como professor da Fundação Getúlio Vargas em são Paulo. Ele substituiria a atual comandante da pasta, Miriam Belchior.

Dilma teria convidado Levy e Barbosa ontem (quinta, 20), em São Paulo, e ambos aceitaram, segunda a verão online do jornal Folha de S.Paulo. Mas a Secretaria Geral da Presidência da República informou, no final da tarde desta sexta-feira (21), que nenhuma troca de ministério seria anunciada hoje. A expectativa era de que os novos ministros fossem confirmados depois do fechamento da Bovespa, que fechou o dia com a mais elevada alta diária desde 9 de agosto de 2011. 

Tombini e Kátia 

No Banco Central, cujo posto de chefia ganhou status de ministro há cerca de dez anos, o mais provável é a permanência de Alexandre Tombini, atual titular da instituição financeira. Uma fonte do Palácio do Planalto com informações privilegiadas sobre a nova equipe econômica diz, segundo a Agência Reuters, que Dilma aprovou o trabalho de Tombini nesses quase quatro anos de primeiro mandato, e que tende a mantê-lo no cargo.

Segundo a Folha de S.Paulo, também é dada como certa a acomodação da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) no Ministério da Agricultura, no lugar do produtor rural Neri Geller, deputado federal licenciado do PP mato-grossense. Com a nomeação de Kátia, o ministério volta para o PMDB, que desde o primeiro ano da gestão Dilma chefiava a pasta. Segundo o jornal, Kátia foi convidada por Dilma na última quarta-feira (19), e aceitou a missão. Um dos símbolos do agronegócio brasileiro, ela é presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) desde 2008, e foi reeleita em 15 de outubro para mais três anos à frente da entidade.

QUANDO OS PRESIDENTES ERAM POETAS

Por ERICKA BECKMAN - Via Le Monde Diplomatique Brasil - 

Presidente e poeta? Para um cidadão moderno, a associação pode soar incongruente. No fim do século XIX, as duas funções caminhavam juntas na Colômbia. Se a palavra “Bogotá” era sinônimo de miséria latino-americana, ela também evocava letras e literatura. Apelidada de Atenas da América do Sul, a capital abrigava um grande número de classicistas renomados, como Miguel Antonio Caro, o presidente colombiano de 1892 a 1898.

Particularmente estreito na Colômbia, esse vínculo entre o mundo das letras e o da política se observa também em outros lugares, de François-René de Chateaubriand (1768-1848) na França a Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) na Alemanha. Na América Latina, contudo, essa relação deu origem a um termo que sublinha o papel central dos homens de letras em projetos de construção nacional: o letrado– que designa a elite da região no século XIX. Capazes de escrever de constituições a romances, de acordos diplomáticos a tratados de gramática, os letrados ocupavam esferas cada vez mais distantes entre si. E em um período de mudanças na história latino-americana.

Entre os anos 1850 e 1930, o subcontinente se integrou pouco a pouco ao sistema econômico mundial. Em seus romances e poemas, os escritores latino-americanos concebiam intrigas, personagens e imagens que apresentavam entusiasmo por essas transformações. Em outras palavras, essas ficções ofereciam discursos que legitimavam as artes e os mecanismos de natureza mercantil.

É comum lembrar que o general colombiano Rafael Uribe Uribe inspirou o personagem do coronel Aureliano Buendía, do romance Cem anos de solidão, escrito por Gabriel García Márquez. Mas às vezes se esquece que esse militar – um letrado – exerceu outras funções, como a de advogado, plantador de café e parlamentar. Em 1908, ele pronunciou um discurso de cem páginas sobre a cultura da banana. Tanto na forma quanto no conteúdo, o texto ilustra uma corrente da produção literária da época.

Logo no início de sua exposição, Uribe Uribe cita uma ode ao poeta e homem de Estado venezuelano Andrés Bello, intitulada “Silva a la agricultura de la zona tórrida” [Ode à agricultura da região tórrida (1826)]. Escrito para promover a exportação de produtos latino-americanos para os mercados europeus, o poema canta os méritos de um fruto excepcional:

“E para você a bananeira
desmaia ao peso de sua doce carga;
a bananeira, a primeira
de muitas, concedeu belos presentes.
Providência às gentes
do Equador feliz”.1

Mais adiante, o general evoca a Bíblia, a literatura em sânscrito e o romance Paul et Virginie, de Henri Bernardin de Saint-Pierre, para desenhar a perspectiva de um futuro promissor ao redor da banana – não uma simples matéria-prima, mas a “rainha das plantas”, “um fruto mítico”. Sem se referir ao sistema econômico no qual se inscreve a produção nem aos trabalhadores encarregados da colheita, Uribe Uribe se coloca na longa tradição de escritores que entrelaçam estética e economia política para valorizar o novo papel da América Latina na divisão internacional do trabalho. Seu discurso repousa nos credos do liberalismo do fim do século XIX. Associada à economia política de David Ricardo, a teoria das “vantagens comparativas” convida cada país a se concentrar naquilo que lhe seria “naturalmente” favorável. Para a América Latina, a vantagem estaria na produção de matérias-primas e derivados agrícolas destinados aos mercados europeus, como a banana.

Das promessas à realidade, contudo, existe um fosso que as obras de ficção não são capazes de superar. Como haviam previsto as correntes críticas ao liberalismo, os fantasmas nutridos pelo desenvolvimento das exportações depararam com diversos obstáculos: crescimento das desigualdades entre grandes proprietários de terra e trabalhadores agrícolas, instabilidade causada pela dependência de economias periféricas em relação ao centro europeu, depois norte-americano etc.2 A partir do fim do século XIX, grande parte das ficções se voltam à descrição de futuros radiantes, como uma resposta literária às crises financeiras.

Jornalista, Julián Martel (1867-1896) encarna o fenômeno da profissionalização da escrita que ocorre nesse momento. Seu romance La Bolsa, um clássico da literatura argentina do século XIX, nasceu em 1891 sob a forma de folhetins publicados em um dos principais jornais do país.

Em 1890, o banco Barings, cuja sede era em Londres, passou por dificuldades após uma operação de alto risco em Buenos Aires. Com a possibilidade de afundar também o sistema financeiro britânico, o estabelecimento obteve apoio de um grupo de investidores privados, mas o PIB argentino caiu mais de 10% entre 1890 e 1891. Fortunas desapareceram da noite para o dia, trazendo à tona o que Martel descreveu como “prosperidade fictícia” em La Bolsa. Seu romance culmina em uma cena memorável: um especulador arruinado é devorado vivo por um monstro semelhante a uma medusa que proclama: “Yo soy la Bolsa!”.

Apesar dessa dramatização das tendências destrutivas do sistema financeiro internacional, Martel não enxergava nenhum futuro fora do “mundo como ele é”. Em vez de denunciar o papel do capitalismo britânico, atacava os alvos habituais: banqueiros judeus e mulheres perdulárias. Em outras palavras, o autor desejava acreditar que, se certos “sujeitos maus” fossem reeducados (ou eliminados), o modelo liberal argentino poderia prosperar.
 
Dos poemas aos tratados econômicos

Seu contemporâneo, Machado de Assis se mostra mais incisivo no Brasil. O grande romancista comenta com ironia a crise brasileira de 1890-1891, conhecida pelo nome de Encilhamento. Cronista da imprensa da época, zomba da fé dos especuladores, alegando, por exemplo, que todo fenômeno financeiro tem “três explicações justas e uma falsa” e que é melhor “acreditar em todas elas”. A zombaria se transforma em cinismo quando Machado de Assis ataca a “ficção” do dinheiro em Esaú e Jacó (1904), romance em geral lido como uma resposta ao Encilhamento. Machado de Assis descreve um eldorado brasileiro onde as ruas são pavimentadas não de ouro, mas de ações e obrigações que se reproduzem como os escravos e “trazem dividendos infinitos”.

Ao longo dos anos, com a sucessão de crises, as ficções literárias passam a construir imagens menos oníricas da modernização capitalista em regiões periféricas. Advogado de formação, o colombiano José Eustasio Rivera visita a região produtora de seringueiros, de onde vem a borracha, a fim de solucionar um conflito fronteiriço entre a Colômbia e a Venezuela. Os bons tempos das plantações ficaram para trás com o deslocamento da produção mundial de seringueiras para a Malásia. Para além da extraordinária opulência dos caciques da borracha, que acendiam o cigarro com notas e enviavam a roupa para ser engomada na Europa, o advogado impressionou-se com as condições de vida dos escravos indígenas que realizavam a extração da preciosa sustância. Em seu romance La vorágine[O turbilhão (1924)], no auge da borracha na Amazônia, Rivera denuncia a cegueira dos letrados que o precederam: seu protagonista principal, um poeta, penetra na selva cantando odes a uma natureza idealizada. E encontra trabalhadores vítimas de ambições econômicas de exploradores que, como eles, acabam por morrer não devorados pela Bolsa, como no romance de Martel, mas pela selva do comércio.

A crise financeira de 1929 fragiliza o consenso no seio das elites. A depressão econômica encoraja a adoção de modelos de crescimento protecionistas fundados na industrialização (modelo de substituição de importações). Em paralelo, o progresso da alfabetização, o crescimento das classes médias e a circulação de ideias comunistas e socialistas favorecem a emergência de novas vozes.

Os escritores continuam abordando a modernização da América Latina, mas agora não são oriundos exclusivamente das classes privilegiadas. O arquétipo do letrado liberal cede lugar ao do “escritor engajado”. Em geral próximos aos ideais comunistas, esses autores denunciam a exploração do continente pelas elites nacionais e estrangeiras. Pablo Neruda, chileno que ganhou o Nobel de Literatura, escreveu um poema intitulado “La United Fruit Co.” (1950), evocando a banana. Mas, diferentemente de Uribe Uribe, Neruda apresenta a fruta como metáfora da degradação do trabalhador:

“Uma coisa sem nome,
um número caído,
um cacho de fruta morta
derramado na podridão.”3

Aparece então um movimento literário que tira seu nome diretamente de uma referência ao paradigma do século XIX: o “boom latino-americano”, encarnado por Gabriel García Márquez, sem dúvida o autor mais célebre da América Latina. Nascido em Ciénaga, vilarejo colombiano que abrigava os bananais da United Fruit Co., Márquez foi influenciado pelos desgastes sociais produzidos pelo modelo exportador. Se por um lado leitores europeus e norte-americanos apreciam o sabor exótico de sua escrita, por outro os livros de Márquez oferecem antes de mais nada uma reflexão crítica sobre a herança dessa dependência. Sua obra-prima, Cem anos de solidão (1967), relata a epopeia de um território bananeiro desde sua fundação até seu literal desaparecimento da face da terra depois da retirada da empresa exploradora. Outro romance, Outono do patriarca (1975), imagina uma nação do Caribe que não tem nada além do mar para vender.

Com o neoliberalismo do fim do século XX, os países latino-americanos abriram novamente seus capitais estrangeiros e renovaram a estratégia econômica com o mesmo entusiasmo de Uribe Uribe. Mas, ao contrário dos séculos anteriores, essa política não procura mais a legitimação dos homens de letras, e sim dos tratados de economia. De seu lado, dirigentes escrevem menos poesias; elogios líricos sobre a banana, como o de Bello, cedem lugar a textos como El ladrillo (O tijolo), redigido pelos “Chicago boys” chilenos, que estabelece os fundamentos da política de livre-comércio empreendida por Augusto Pinochet e cujo título sugere toda sua delicadeza.

Se a literatura perdeu seu prestígio e sua capacidade prescritiva, os escritores não abandonaram a pluma. Em Impuesto a la carne[Imposto sobre a carne (2010)], romance da chilena Diamela Eltit, uma mãe e sua filha são vítimas de um sistema de mercantilização extrema e não têm outro recurso além de vender seus próprios órgãos. Em 2666, o chileno Roberto Bolaño apresenta uma visão aterradora das maquiladoras do norte do México. O romance El año del desierto(2005), do argentino Pedro Mairal – escrito depois da crise de 2001 –, conta o naufrágio de setores financeiros em uma distopia em que o país inteiro regride até qualquer traço de civilização ser engolido pelo deserto. Mas o poder econômico não recorre a obras literárias para se legitimar: a imprensa se encarrega disso.

*Ericka Beckman é autora de Capital fictions. The literature of Latin America’s export age [Ficções capitais. A literatura latino-americana na era das exportações], University of Minnesota Press, Minneapolis, 2013.
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1 - “Y para ti el banano/ Desmaya al peso de su dulce carga;/ El banano, primero/ De cuantos concedió bellos presentes/ Providencia a las gentes/ del Ecuador feliz” [as traduções são da redação].
2 - Sobre o mecanismo da dependência (“teoria da dependência”), ler Renaud Lambert, “Le Brésil, ce géant entravé” [Brasil, esse gigante entravado], Le Monde Diplomatique, jun. 2009.
3 - “Una cosa sin nombre/ un número caído/ un racimo de fruta muerta/ derramada en el pudridero”.

EQUIPE ECONÔMICA DO TRIPÉ. MAIS DO MESMO

Por IVAN VALENTE - Via Facebook -


O governo acaba de sinalizar a formação de sua equipe econômica, através de três nomes: Joaquim Levy, para a Fazenda; Nelson Barbosa, para o Planejamento e Tombini, que continua no Banco Central.

São todos nomes perfeitamente aceitos pelo nervoso mercado financeiro. Joaquim Levy é conhecido e reconhecido por sua ortodoxia nas políticas de ajuste fiscal, assim como Nelson Barbosa e Alexandre Tombini.

Na campanha, Dilma, Aécio e Marina prometeram manter o chamado "tripé econômico": regime de metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário. Agora, Dilma não só cumpre o prometido mas é acusada de estelionato eleitoral por reduzir ou não fixar um índice para o superávit primário.

Neste momento, o Congresso Nacional discute o Orçamento da República. No entanto, nem os governistas, nem a oposição de direita dão um pio sobre o que está reservado para pagar juros, amortizações e rolagem da dívida pública. Simplesmente, a maioria dos partidos e a mídia brasileira não citam que quase metade da arrecadação de impostos, 910 bilhões, são para banqueiros e rentistas nacionais e internacionais. Para a saúde, educação, moradia, transporte e infraestrutura não haverá recursos. O silêncio é ensurdecedor e o cinismo é constrangedor. Ninguém fala em auditoria ou renegociação da dívida pública e o Brasil patina e se rende aos ditames do "deus" mercado.

É política econômica para deixar tudo como está. Mas teve muita gente que foi à rua contra os R$0,20 do aumento das passagens. Ou já esqueceram?

A PF ERROU, A IMPRENSA TAMBÉM

Por ALBERTO DINES - Via Observatório da Imprensa - 

Quando a fonte erra, aqueles que veicularam o erro também deveriam assumir a sua parte. Na quarta-feira (19/11), em nota, a Polícia Federal reconheceu que os indícios contra o atual diretor de Abastecimento da Petrobras, José Cosenza, basearam-se em “erro material”.

Cosenza foi escolhido em 2012 para substituir o notório Paulo Roberto Costa, e durante a gestão deste na Diretoria de Abastecimento ocupou uma de suas gerências executivas.

Ao longo do dia, rádios e emissoras de TV veicularam o erro da autoridade policial em sucessivos boletins. À noite, no Jornal Nacional da Rede Globo, o episódio foi apresentado por William Bonner, editor-chefe do programa, com a inconfundível entonação de fatos graves. Não obstante, o caso foi omitido pelo Jornal das 10, o principal noticioso da GloboNews. 

Erro duplo 

Nos jornalões de quinta-feira (20), a admissão do erro foi dada na manchete principal do Estado de S.Paulo. Mas o comportamento do concorrente, Folha, foi menos transparente, já que no dia anterior chamara, na primeira página, uma reportagem apurada pelo próprio jornal junto a diversos ministérios em Brasília informando que a saída de Cosenza tornara-se inevitável. Ao reconhecer na quinta-feira em discreta chamada de capa que a PF errara, não se referiu ao seu próprio erro.

O erro da PF mereceu do Globo algum destaque, na parte inferior da primeira página e na interna (pág. 3), e um pequeno editorial onde ressalta a atitude do juiz federal Sérgio Moro, que cobrou explicações públicas da Polícia Federal e também controles internos mais rigorosos na divulgação do andamento do processo.

Inadmissível o distanciamento de alguns veiculadores do erro original. Como se um veiculo de comunicação funcionasse como intermediário acrítico e neutro, sem qualquer envolvimento com o teor, destaque e tratamento do que noticiou. A imprensa não pode resignar-se à posição de terceirizada, nem esquivar-se de suas responsabilidades. Tem fé pública: quando não apura, torna-se parceira da fonte.

A PF errou, a mídia também.

NOVO TIROTEIO E A ROTINA DE MEDO DOS MORADORES DA ROCINHA

Por DAVISON COUTINHO - Via Mídia Informal -


Os moradores da Rocinha, mais uma vez, acordaram assustados com o tiroteio que aconteceu nesta manhã de sexta-feira (21/11). A comunidade tem sido palco de intensos tiroteios, que tem se intensificado nas ultimas semanas. A Rocinha completou, semana passada, três anos da pacificação, no entanto os confrontos ainda são um problema diário enfrentado pelos moradores.

Os moradores estão cada diz mais assustados com a violência local, e revelam que está cada dia mais difícil continuar na Rocinha. São diversas as casas com marcas de tiros e o risco de uma bala perdida é sempre grande.

Quando acontece um confronto, além do risco dos moradores, as escolas e creches não funcionam, o que causa um transtorno na vida do trabalhador que não pode ir trabalhar, sendo muitas vezes descontado ou até mesmo demitido.

Só Deus para proteger a vida de nossos moradores, trabalhadores e crianças!

ROCINHA PEDE PAZ!!!

* Davison Coutinho, 24 anos, morador da Rocinha desde o nascimento. Bacharel em desenho industrial pela PUC-Rio, Mestrando em Design pela PUC-Rio, membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, professor, escritor, designer e liderança comunitária na Comunidade.

ABI condena reação de traficantes 

NOTA OFICIAL

"A Associação Brasileira de Imprensa expressa sua repulsa e indignação diante da violenta agressão sofrida pelos jornalistas de O GLOBO, rebidos a tiros de fuzil  por traficantes do Morro da Rocinha, no Rio de Janeiro. A ABI  deplora que  episódios dessa natureza estejam se transformando em condenável rotina em áreas da cidade sob rígido controle policial. Não se pode permitir que profissionais de imprensa, no livre exercício de suas funções, continuem a ser vítimas de intimidações e ameças que comprometam o trabalho de informar a opinião pública que lhes é assegurado pela Constituição. O acesso à informação e a liberdade de imprensa, preceitos básicos do Estado de Direito, são pilares do regime democrático. A ABI exige que o Governo do Estado do Rio monitore esse episódio com o máximo rigor,  indentificando e punindo os responsáveis por mais essa violência praticada contra jornalistas, a fim de que seja entancado o processo de erosão que tanto compromete a credibilidade das instituições nos dias de hoje. As autoridades devem se convencer, de uma vez por todas,  que qualquer agressão à imprensa representa  também uma ameça à Democracia.

Domingos Meirelles
Presidente da ABI"

Baiano diz que iniciou negócios na Petrobras no governo FHC

Via 247 - 

O empresário Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB no esquema de propinas e corrupção na Petrobras, disse à Polícia Federal nesta sexta-feira (21), que começou a fazer negócios com a estatal ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, em 2000. "Por volta do ano de 2000, ainda durante a gestão Fernando Henrique celebrou um contrato com uma empresa espanhola, de nome Union Fenosa, visando a gestão de manutenção de termelétricas", disse.

A PF suspeita que o reduto de ação de Fernando Baiano na Petrobras era a Área Internacional, que foi comandada por Nestor Cerveró, personagem emblemático da compra da Refinaria de Pasadena, nos EUA. Fernando Baiano disse que conheceu Cerveró “ainda no governo Fernando Henrique”. Na ocasião, segundo ele, Cerveró era gerente da Petrobras.

Ele disse que “soube recentemente” que Cerveró foi “indicação política” do PMDB, mas que achava que o ex-diretor de Internacional “sempre fosse vinculado ao PT”. Fernando Baiano disse que “soube que o diretor que assumiu o cargo no lugar de Cerveró era indicação do PMDB”.

Baiano também falou sobre o doleiro Alberto Youssef e disse que ele lhe pediu que “fizesse doações para campanhas políticas”. O doleiro, segundo Fernando Baiano, teria sugerido que “alguma empresa” por ele representada também fizesse doações. O suposto operador do PMDB negou que tivesse repassado valores para Youssef.

Ele negou também que tenha sido operador de “qualquer partido político”. Admitiu que mantém duas contas no paraíso fiscal de Linchenstein, uma em seu nome e outra em nome de sua empresa, Tecnhis Engenharia e Consultoria, ambas as contas “declaradas”.

A contribuição milionária de Márcio Thomaz Bastos ao reinventar a Polícia Federal

Por LEANDRO FORTES - Via DCM - 


Márcio Thomaz Bastos foi um dos mais importantes criminalistas do País. Defendeu figuras nefastas como o ex-governador baiano Antonio Carlos Magalhães, o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o médico estuprador Roger Abdelmassih. Atuou como advogado, ainda, de banqueiros envolvidos nos processos do mensalão e, agora, defendia diretores das empreiteiras Camargo Corrêa e a Odebrecht presos pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal.

Mas, como se sabe, não se julga um advogado pelos clientes que teve. Ainda mais se esse advogado é Márcio Thomaz Bastos.

Isso porque, quando ministro da Justiça, ele foi, por assim dizer, o fundador da Polícia Federal como corporação de Estado com ações baseadas em fundamentos republicanos – expressão, aliás, que ele ajudou a popularizar nos primeiros anos do primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Até então, “republicano” era um vocábulo perdido em livros de história. Foi Doutor Márcio, como era conhecido o ministro da Justiça de Lula, que deu ao termo a consistência cidadã que, dali por diante, passou a ser aplicada como um atestado civil de atos civilizatórios no Brasil.

Como repórter, passei 20 anos ligado a coberturas de ações da Polícia Federal, em todo o país, a partir da minha atuação profissional em Brasília. Assim, posso dizer com absoluta certeza que foi tão somente na gestão do Doutor Márcio, com o delegado Paulo Lacerda à frente da corporação, que a Polícia Federal deixou de ser uma milícia de governo – herança direta da ditadura militar – para se tornar, em pouco tempo, uma referência no combate ao crime organizado e à corrupção.

Os números falam por si.

Durante os dois mandatos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, entre 1995 e 2002, a Polícia Federal realizou exatas 48 operações.

Isso dá uma média ridícula de seis operações por ano.

Nos governos do PT, entre 2003 e maio de 2014, a Polícia Federal realizou 2.226 operações – prendeu 2.351 servidores públicos e colocou em cana 119 policiais federais metidos com criminosos.

O ponto de inflexão está situado, justamente, na entrada de Márcio Thomaz Bastos no Ministério da Justiça, em 2003, e a nomeação de Paulo Lacerda como diretor-geral da PF, no mesmo ano.

Foi a partir de então que o País – e a mídia – passou a compreender a verdadeira dimensão da corrupção nacional e a forma como, entranhada na cultura de negócios públicos e privados, ela era protegida e aceita, inclusive, pelo cidadão comum.

Exemplo ilustrado dessa mudança foi a Operação Narciso, de julho de 2005, quando a loja Daslu, em São Paulo, então o maior centro de consumo de luxo do país, foi alvo de uma ação conjunta da Polícia Federal, Ministério Público e Receita Federal.

Lá, onde até a filha do governador Geraldo Alckmin, do PSDB, trabalhava como vendedora, a PF estourou uma tramoia de refaturamento e subfaturamento de notas fiscais que permitia à Daslu sonegar diversos tributos. O esquema incluía o uso de empresas importadoras “laranjas” que vendiam os produtos à Daslu por preço abaixo do de mercado.

Presa e, depois, condenada a 94 anos de cadeia, a dona da Daslu, Eliana Tranchesi, virou uma mártir da elite branca nacional. Nas chorosas colunas que se seguiram à sua prisão, os cães de guarda da mídia acusavam Lula, Bastos e Lacerda de, ao invadir o templo de luxo e prazer dos paulistanos, suscitar a luta de classes no Brasil.

Que o digam as classes em luta. Durante a invasão do prédio da Daslu, moradores de uma favela próxima não tiveram dúvida: uns se refugiaram dentro de casa, outros, nos matagais próximos. Só mais tarde puderam perceber, estupefatos, que o aparato policial em movimento não os tinha como alvo, mas, sim, os grã-finos da vizinhança.

Em 2012, o jornalista Boris Casoy, apresentador da TV Bandeirantes, chegou a acusar Lula pela morte de Eliana Tranchesi, vítima de um câncer no pulmão, naquele ano. Casoy, conhecido nacionalmente por tratar garis como lixo, ficou profundamente tocado pela morte da dona da butique, segundo ele, “humilhada” pela ação da Polícia Federal.

Nesses tempos em que delegados da PF se organizam em turmas partidárias para fazer campanha para Aécio Neves nas redes sociais, chamar Lula de “anta” e patrocinar vazamentos seletivos contra o governo da presidenta Dilma, é de se pensar, com saudade, na memória de Márcio Thomaz Bastos.

NUNCA SE ROUBOU TÃO POUCO

Por RICARDO SEMLER - Via Folha -
Nossa empresa deixou de vender equipamentos para a Petrobras nos anos 70. Era impossível vender diretamente sem propina. Tentamos de novo nos anos 80, 90 e até recentemente. Em 40 anos de persistentes tentativas, nada feito.
Não há no mundo dos negócios quem não saiba disso. Nem qualquer um dos 86 mil honrados funcionários que nada ganham com a bandalheira da cúpula.
Os porcentuais caíram, foi só isso que mudou. Até em Paris sabia-se dos "cochons des dix pour cent", os porquinhos que cobravam 10% por fora sobre a totalidade de importação de barris de petróleo em décadas passadas.
Agora tem gente fazendo passeata pela volta dos militares ao poder e uma elite escandalizada com os desvios na Petrobras. Santa hipocrisia. Onde estavam os envergonhados do país nas décadas em que houve evasão de R$ 1 trilhão –cem vezes mais do que o caso Petrobras– pelos empresários?
Virou moda fugir disso tudo para Miami, mas é justamente a turma de Miami que compra lá com dinheiro sonegado daqui. Que fingimento é esse?
Vejo as pessoas vociferarem contra os nordestinos que garantiram a vitória da presidente Dilma Rousseff. Garantir renda para quem sempre foi preterido no desenvolvimento deveria ser motivo de princípio e de orgulho para um bom brasileiro. Tanto faz o partido.
Não sendo petista, e sim tucano, com ficha orgulhosamente assinada por Franco Montoro, Mário Covas, José Serra e FHC, sinto-me à vontade para constatar que essa onda de prisões de executivos é um passo histórico para este país.
É ingênuo quem acha que poderia ter acontecido com qualquer presidente. Com bandalheiras vastamente maiores, nunca a Polícia Federal teria tido autonomia para prender corruptos cujos tentáculos levam ao próprio governo.
Votei pelo fim de um longo ciclo do PT, porque Dilma e o partido dela enfiaram os pés pelas mãos em termos de postura, aceite do sistema corrupto e políticas econômicas.
Mas Dilma agora lidera a todos nós, e preside o país num momento de muito orgulho e esperança. Deixemos de ser hipócritas e reconheçamos que estamos a andar à frente, e velozmente, neste quesito.
A coisa não para na Petrobras. Há dezenas de outras estatais com esqueletos parecidos no armário. É raro ganhar uma concessão ou construir uma estrada sem os tentáculos sórdidos das empresas bandidas.
O que muitos não sabem é que é igualmente difícil vender para muitas montadoras e incontáveis multinacionais sem antes dar propina para o diretor de compras.
É lógico que a defesa desses executivos presos vão entrar novamente com habeas corpus, vários deles serão soltos, mas o susto e o passo à frente está dado. Daqui não se volta atrás como país.
A turma global que monitora a corrupção estima que 0,8% do PIB brasileiro é roubado. Esse número já foi de 3,1%, e estimam ter sido na casa de 5% há poucas décadas. O roubo está caindo, mas como a represa da Cantareira, em São Paulo, está a desnudar o volume barrento.
Boa parte sempre foi gasta com os partidos que se alugam por dinheiro vivo, e votos que são comprados no Congresso há décadas. E são os grandes partidos que os brasileiros reconduzem desde sempre.
Cada um de nós tem um dedão na lama. Afinal, quem de nós não aceitou um pagamento sem recibo para médico, deu uma cervejinha para um guarda ou passou escritura de casa por um valor menor?
Deixemos de cinismo. O antídoto contra esse veneno sistêmico é homeopático. Deixemos instalar o processo de cura, que é do país, e não de um partido.
O lodo desse veneno pode ser diluído, sim, com muita determinação e serenidade, e sem arroubos de vergonha ou repugnância cínicas. Não sejamos o volume morto, não permitamos que o barro triunfe novamente. Ninguém precisa ser alertado, cada um de nós sabe o que precisa fazer em vez de resmungar.
* RICARDO SEMLER, 55, empresário, é sócio da Semco Partners. Foi professor visitante da Harvard Law School e professor de MBA no MIT - Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA).